As mãos dos meus avós
As mãos falam. Trabalham. Cuidam. Adicionam gestos para auxiliar a falta de palavras.
Olho para as mãos dos meus avós e elas falam comigo. Dizem-me que trabalharam muito, que cuidaram de mim e que adicionaram gestos quando o vocabulário que tinham não era suficiente para me explicar coisas, tendo em conta que são analfabetos.
Nisto, as folhas já começaram a cair e o tempo está a passar. Muito rápido.
A Ti Carmina e o Avô Quim estão a ficar velhotes, e não há mal nenhum em dizer isso, é a vida. A vida vai alongando e cada um aguenta-a como pode.
Hoje vieram semear os alhos e o meu avô já não consegue cavar. Isso não o impede de estar sempre a dar indicações de como a minha avó deve fazer as coisas. Sinal dos tempos antigos em que a mulher era, mesmo, biombo de sala. Ela briga a dizer que já está cansada, que agora é só ela a fazer tudo e que ele está velho. Ele bufa que mais uns tempos vai para a casa branca e que desde que caiu de bicicleta nunca foi o mesmo ao ponto de colocar toda uma vida na balança da utilidade, seja isso o que for, no chão que pisa. Começa-se a pensar, inevitavelmente, na morte. Parece que se começa a pensar no tempo que resta e que esse tempo é finito.
Olhar para eles dois faz-me refletir sobre o tempo e sobre o poder das pequenas coisas. Olhar para eles faz-me olhar para a vida.
Um diz que a hora está quase a chegar, quando na verdade não quer que ela chegue. E do outro lado faz-se o que pode e o que não se pode para o puxar dessa espera.
E a vida continua e tem de continuar! Senão a quem vou buscar ovos para fazer um bolo? Ou as couves que eles plantam, mas não comem, só para nós comermos? Ou com quem vou falar de orquídeas? Ou quem é que vai dar 3 sumos de pera todas as semanas? Ou quem vai ficar radiante e feliz por eu ter acabado um curso que não faz absolutamente mínima ideia do que é? Ou quem é que vai vir a casa para dizer que o “telemóvel precisa de comer que não estou a conseguir ligar para ninguém”?
Avós têm mesmo de viver para sempre.







